quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

dois pares

A jovem de olhos oblíquos chora trancada no céu
E quer tanto, embora
Arruma o cabelo mais de três vezes tentando livrar sua dor
Ela quer viver

Como uma estação
que passa sem você ver
Como uma estação
que nasce antes de morrer


O velho da praça sente os seus pés sujos quando caminha
Ele não tem meias
Volta as três e liga o canal que mais gosta pra esquecer
Ele quer sorrir?

De onde elas vêm?
Vocês conseguem ver?
De onde elas vem
Morrem antes de nascer

olhem só tantas pessoas solitarias!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O teatro, o pirata e o mágico

Sabia que o fim lhe cortara, lança afiada, seu primeiros suspiros juvenis,naturalmente encharcados de libido e vontade, pelas noites que se descortinaram, junto a um pé de abacate, do quintal do vizinho, contrastando, da janela, o estranho refinamento de dentro, que de verde nada tinha. Alfinetava a superfície dos sobressaltos que percorria entre um cigarro e outro, procurava abrigo nos braços que em breve iriam lhe faltar. Mesmo assim, sugava feito lobo espreito as ultimas forças de gozo, que pareciam as primeiras para quem quer muito, escondendo o trágico charme dos desencontros, para quem quer pouco. Já que está corte lasca de sangue, abrir um pouco mais não fará diferente. Pensando assim, percorria ao mesmo tempo cabisbaixo e estufante, as ruas que lhe levariam ao par de olhos demarcados de carência e orgulho, renegados e ao mesmo tempo tão desejados. Veio-lhe novamente a idéia engavetada, posta pra fora, ao antecipar o instante em que contemplaria de longe a meio palmo sua boca calicinal: Os contrários estão presentes. E se deglutiam. Talvez por isso tenha vomitado embriaguez amparado à mão de apolo, naquelas noite que começavam pelo fim. Quando o telefone tocou, o numero registrado, e as luzes das lojas enviaram mensagem ao tempo, e sentiu o gosto escuro da noite embrulhado em lençóis e pele. Suspirou frenesi e pôs-se a mergulhar, como quando menino passava por cima das ondas e metia a cabeça n’água. Podia ter ficado na sua, e negar o propósito. Apesar de tudo ser feito de lembranças agora, tomou um banho de acaso e se jogou pela porta a fora. Quando se toma um banho desses é como se o sol caísse em cima, e sua chama fosse embebida das águas correntes da vida. Tudo pode dar certo, se está onde se está. Simples como a musica não tocar e afinando suas cordas, cantar é com o espírito, jorrar o que todos escondem. Tudo está bem, a ida a vinda, o encontro e a despedida, desde que aconteça no fim: Quero. Quero sentir!