domingo, 20 de dezembro de 2009

A morte do capitão

Tinha uma praia e logo na beirada
algumas casinhas
rendeiras
pescadores
passeio de bateras
mergulhos de criança
vento sul

As casinhas dobraram uma geração
e logo pessoas de lugares longinquos
começaram a chegar
e tinham que comer e tinham que dormir
e tinham que viver como quem ali vivia

Mais uma geração
e existem hotéis, restaurantes
onde a moqueca do olho da cara
é aquela receita da avó
que dos indios herdou
os temperos vermelhos de outrora

Passado mais um pouco
uma casinha de frente pro mar
teve que dar lugar à uma buati
de grandezas e requintes
e o morador que pintara a mão
as janelinhas azuis de sua morada
que fora capitão de fragatada nas marés fortes
que tecia suas redes em seu quintal
que olhava fundo pro mar delicadeza
teve que abandonar seu posto

no dia em que viu que não seria possível viver
sem acordar com a areia branca
e com aquele barulho das ondas
vestiu seu uniforme
pegou a corda do barco
foi até a última castanheira
e se enforcou

depois de alguns anos
viemos saber que a buati
que matou o Capitão
que soterrou suas tarrafas
e sumiu com suas janelas azuis
fora construída com dinheiro público
e serve como lavagem de propinas
em um esquema de corrupção.

3 comentários:

Lamentation... disse...

por acaso sabes quem fala neste blog e te digita neste exato momento?

bom caso não saiba o mistério ficará no ar...
obrigada pelo comentário

beijoooo
=*

Epifania disse...

Agora com nome meu bem...sou eu Camila...de Letras hahahaha

^^
Obrigada pelo comentário e pelas palavras =]]

agora acabou o mistério...hahahaha

beijooo
=*

Ramando Carvalho disse...

Beleza Camila. rsrs

beijos.